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domingo, 29 de junho de 2014

sabado de manhã, zelador me liga. o mesmo zelador que já me chamou de minha filha e brigou comigo em tempos outros. hoje em dia, trocamos apenas cumprimentos respeitosos.

me espanta a gentileza, todo querido, cheio de interjeições. vem a pedido de um outro morador do prédio, que comprou um carro grande e precisa trocar de vaga. sabe-se lá por que cargas d'água ofereceram a minha como uma opção. ele diz que o morador está perguntando se eu posso trocar, porque o carro novo dele simplesmente nao entra na garagem do subsolo. e ele quer a minha, no térreo. e que o casal de velhinhos que para o carro em frente ao meu já topou, e disse que até concorda em parar o carro deles mais pra pontinha da vaga, pra que o carro grande caiba.

você aceita? - ele pergunta. digo que preciso checar a vaga, que não posso aceitar sem ver, e que depois eu dou notícias a ele. ele pergunta se o morador pode falar diretamente comigo, e eu digo que não. da mesma forma que ele intermediou esse contato, eu respondo pra ele se topo e ele leva a notícia. não gostaria ter de dizer não diretamente para a pessoa.

mas a vaga é ótima, é muito boa mesmo. a garagem lá de baixo é muito melhor. 

digo que vou analisar, pensar e depois respondo.

mais tarde eu vou ao subsolo ver a tal vaga incrível que o morador quer trocar comigo. é tipo a pior vaga de todas as vagas do andar de baixo, do andar de cima, de todos os andares de todas as garagens de todos os prédios da rua, do bairro, de são paulo.

não, obrigada. o carro gigante sem vaga agora perambula pelas vagas temporariamente vazias. é um carro realmente gigante. caminhonete com cabine dupla, daquelas largas, sabe?

como uma pessoa compra um carro sem saber se vai conseguir parar ele na garagem, meudeusdoceu? alguém compra sofá sem ter certeza de que cabe na sala?

quinta-feira, 19 de junho de 2014

:x

das coisas que eu mais quero na vida. ficar calada. voltar a morar dentro da minha cabeça, não sentir essa enorme vontade descontrolada de dizer tudo o que eu penso, rápido e atropelado. como faz pra deixar de ser passional? como faz pra respirar fundo e escolher as palavras? pra ouvir mais e falar menos? pra falar calma e pausadamente?

todo dia eu chego em casa arrependida. pode ter sido o trabalho, pode ter sido alguma conversa boba na cozinha. eu sempre queria ter falado menos. pensado mais. processado antes dentro da minha cabeça, pra que quando as palavras saíssem elas estivessem marinadas, prontas, escolhidas. eu processo pra fora. sigo falando pelos cotovelos. me exponho. sigo decepcionada comigo por não ficar quieta, por não conseguir morar dentro da minha cabeça. eu quero ser aquela que nunca fala, a menos que tenha algo relevante a dizer. eu quero ser aquela que até é cheia de histórias pra contar, mas, quer saber, melhor não. informação é coisa que se guarda. eu devia me preservar mais. pra que ninguém soubesse o que eu penso, como eu me sinto. se insegura ou confiante, se feliz ou triste. minha cara diz tudo o tempo todo.

e quando ela não diz, digo eu.

o mundo é um lugar melhor aqui dentro. eu devia morar aqui dentro.

quero

acelerar um ou dois anos no tempo. pra que as coisas todas estejam pra trás, e não pra frente 

uns pisca-pisca bonitos na parede da cama

chão firme embaixo dos pés, de tacos de madeira

paz de espírito.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

tem fases que eu me jogo mais no trabalho, tem fases que as forças me faltam um pouco. eu tenho trabalhado muito. a lojinha suga as forças, mas na hora a gente nem nota. vai com a corrente. a gente nota quando chega em casa e nem pensa em pegar o computador pra olhar as coisas do dia. foi internet o dia inteiro. deixa ficar offline um pouquinho. e lava a louça no automático, e checa a despensa fazendo mentalmente a lista do supermercado. o supermercado que só será feito quando faltar pão, café ou açucar. o resto todo pode esperar. põe roupa na máquina de lavar, deita na cama e apaga. acorda no dia seguinte, com a décima soneca do despertador, meio revoltada porque a noite não foi suficiente. 

e continua. e continua. e continua.

terça-feira, 10 de junho de 2014

sobre a pessoa perdida, e depois achada. mais ou menos.

eu queria achar a receita do supremo de banana do couve-flor, restaurante querido dentro da puc-rio. digitei no google o que se digita sempre. os resultados eram muito vagos, fiz o que qualquer um faz, botei aspas, estreitei os resultados. estreitei tanto que cheguei num post de um blog. o meu antigo blog.

(pausa dramática pra um mimimi básico de saudades de um tempo que não volta mais. jamais me recuperarei por deixar aquele endereço querido pra trás. jamais.)

era um post falando da renata, a amiga que opted out. foi escrito em algum lugar de 2012, se não me engano. renata era a minha constante. lidei muito mal com o nosso afastamento, mesmo que tenha parecido a pessoa mais adulta do mundo por não ir lá fazer um escândalo de por que você deixou de ser minha amigaaaaaaaaaaaa.

:(

senti saudades, senti pena do destino que a gente teve, senti raiva por ela ter sumido, assim.

algumas vezes nesse ultimos anos eu tive um pouco de medo de esbarrar nela na rua. porque a gente continua morando perto e circula pelos mesmos lugares. (o que aumentava a minha mágoa pelo afastamento. amizade interrompida, todo um trauma nessa minha vida.) 

estava no lollapaloosa, em abril, e dei de cara com ela. ela sorriu e me chamou pelo apelido mais antigo que eu me lembro de ter. felt like home. nos abraçamos, eu estranhei o cabelo vermelho cereja dela, mas fiquei feliz de ver que ela ainda era ela, mesmo com esse abismo que se abriu entre a gente. apresentei meu menino pra ela. falamos do show do placebo, dali alguns dias.

vamos? - ela perguntou. 

claro que vamos, eu disse, meio sem acreditar que de fato estávamos combinando alguma coisa.

estávamos. :)

dias depois, fomos juntas ao show do placebo. ela e o marido, eu e o namorado. foi diferente. um diferente meio triste, mas ao mesmo tempo feliz. algumas amizades acabam, outras mudam de lugar. talvez seja isso que tenha acontecido com a gente.

por ora, basta. quem sabe a gente não se acha de novo, um dia?