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quarta-feira, 17 de abril de 2013

eu vejo a pollyana reclamando a ausência do blog antigo e sofro de um tanto que o assunto vai parar na terapia. porque toda vez que eu ensaio achar que tudo bem, move on, eu lembro do quanto que eu gostava dali, do quanto ali era a minha casa. eu adoraria que a amiga dela pudesse olhar a minha história nesse momento de chegada em são paulo. e adoraria poder ir lá e reler o que eu escrevi quando era praticamente outra pessoa.

eu ainda sou aquela pessoa, mas eu mudei tanto TANTO desde que cheguei em sumpolo dentro do peugeotzinho 206 com a vida empacotada. o blog seria outro, hoje. seria como esse é, sem aquele imenso muro que impede a migração de uma história pra outra. o que estava lá não está mais, e isso eu boto na conta do ex amigo ex chefe, do ex amigo psicopata, de cada um que não entendeu que o que eu era ali, o que eu sou aqui, não era nada além de uma história aleatória de uma pessoa qualquer. foi por isso que eu vim pra cá. é por isso que eu sorrio e nego, dizendo que aprendi minha lição a cada vez que um amigo me pergunta se eu tenho um blog, e onde diabos eu estou escrevendo. porque é óbvio pra eles que eu não parei, é óbvio que eu ainda tenho coisas a dizer. a lição aprendida é o anonimato, só ele. eu penso em republicar os posts antigos, deixar pras pessoas que quiserem ler. eu tenho o maior orgulho da minha história. de cada coisa que eu escrevi, de cada briga que eu comprei.

aparentemente, eu amadureci e não compro brigas mais tão facilmente. me preocupo mais em não ferir os sentimentos dos outros. as pessoas nunca vão entender. blog é experiência pessoal. 

eu vejo as coisas todas que eu vivi nos meus primeiros dois anos em são paulo, e parece uma outra pessoa, uma outra vida. os amigos todos, cadê? as pessoas que me receberam, que me acalentaram, que me divertiram. cadê? todo mundo espalhado pela vida, pelo mundo. a ex roomie freak voltou pro rio, casou. vi fotos do casamento na minha timeline, amigos em comum dando likes nas fotos. um vestido bonito, o cabelo mais curto, com cachos. ela parecia feliz. desejei secretamente que ela fosse feliz, porque sim, porque eu nunca desejei de fato mal a ela. o ex amigo psicopata também casou, fotos lindas e um videozinho hipster wannabe de casamento com musica indie de fundo. super mainstream. esbarro nele muito de vez em quando, e ainda tenho medo. mesmo sabendo que ele não vai me fazer mal, que ele pediu desculpas e teoricamente está na terapia. o outro amigo querido virou um estranho, ressentido com o meu sumiço na briga com a roomate. não fala comigo. descobri recentemente que ele mora na rua de trás, e divide apartamento com um coworker do namorado. olha a vida dando voltas. ele ainda não quer papo comigo, parado no tempo, há quatro anos atrás. duas em londres, mais dois no rio, um viajando o mundo para um programa de televisão. sobrou foi nada.

não preciso superestimar aquela época. foi uma fase de descobertas, de experimentar a cidade nova, de acreditar que os laços eram fortes. e eles eram tão frágeis. eu estou ok com isso. construí outras histórias, fiz amigos de verdade, estou numa fase incrivel profissionalmente, dividindo as contas e a vida com o menino mais legal do mundo. o que mais eu posso querer?

é o que tem pra hoje, e o espaço pra contar agora é esse, a salvo daqueles que não entendem, que nunca entenderam. tem várias formas de se contar uma história. esse capítulo é aqui.  

segunda-feira, 8 de abril de 2013

mais uma do babacao de tecnologia

tem uma sala lotada de computadores e monitores fora de uso. eu pedi pra pegar um monitor e colocar na minha mesa, porque fica mais fácil trabalhar com duas telas. ele me lembrou que eu uso um mac, e não tinha adaptador sobrando, eu concordei, lamentei e deixei a ideia pra lá.

ele pegou um monitor, sorriu e disse que ia fazer o que eu tinha sugerido, porque ele tinha adaptador. colocou o monitor na mesa dele, e só usou de fato para trabalhar durante meia hora. largou pra lá.

o imbecil pegou um monitor estreito, desses antigos. ontem surgiu um adaptador e eu voltei na salinha e peguei um monitor widescreen, dos mais novos, como deve ser.

to aqui vendo quanto tempo vai levar até que ele troque o monitor dele por um igual ao meu.

(Coloquei o monitor exatamente no espaço onde a gente fica de cara um pro outro. Paredinha. No more eye contact.)

terça-feira, 2 de abril de 2013

o cara da tecnologia

então me acompanhem. eu cheguei na firma em início de novembro. o cara de tecnologia tinha acabado de voltar de viagem, de uma ida aos eua pra conhecer o trabalho dos gringos que a minha firma tinha acabado de contratar. ele chegou, olhou pra mim e disse. meu aniversário foi semana passada, e eu tomei um pé na bunda.

aparentemente, ele namorava essa menina, bem mais nova que ele, e já estavam morando juntos inclusive. iam casar, preparativos começando. bem na hora de dar a entrada no apartamento, ela repensou a situação e disse que não queria, que estava confusa, bla bla bla.

sentada na minha mesa (que fica bem de frente pra dele), com cara de paisagem, eu escutei ele desfiar o quanto ela era imatura, e o quanto esteve ausente qando ele perdeu o pai, e sobre o péssimo gosto dela pra música e festas. eu não perguntei nada disso. ele apenas ia falando. eu disse, assim como quem não quer nada, pra ele ir fazer terapia (e me poupar das lamúrias, consequentemente), mas ele disse que já fazia. ele usa termos de análise o tempo todo, cita lacan e freud como se fossem velhos amigos, desfia as teorias todas. parece que estudou psicologia em alguma parte da história dele. eu continuei em silêncio, há muito venho perdendo a paciência pra mimimis alheios.

modos que hoje, 5 meses depois, eu sei tudo o que houve entre os dois. tudo. já passamos pela fase em que ele chama ela de rampeira e de falecida, passamos pela fase em que ela ganhou o direito de ser chamada pelo próprio nome de novo, pela recaída que eles tiveram, pela fase em que ele fuçou o facebook dela e decobriu que o término lá de dezembro era motivado por um terceiro elemento, e ela ficou foi com ele sse tempo todo, e quando o cara deu um pé na bunda dela, ela voltou pedindo arrego.

e eu ali, ainda sem perguntas, tentando evitar contato visual e novas atualizações para a novela mexicana. do nada, pisca a janelinha do gtalk. é ele, falando dela. não, eu não perguntei. eu não quero saber, obrigada.

chegou aquele momento em que ele começa e a gente só suspira na mesa de almoço, e fala. cara, ela nao te faz bem, desencana. e ele prossegue falando de pulsões, e memórias da infância que ele não consegue acessar, e sobre como a análise dele vem ajudando a descobrir que ele tem comportamentos repetitivos e que tudo isso vem lá de quando ele tinha 4 anos e os pais se separaram, e aí ele fugiu de casa e foi a única vez que ele apanhou da mãe, bla bla bla.

aaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh. eu só quero que ele pare, sabe? alguém faz ele parar?

daí, antes um pouco desse looping voltar, há uns dois meses, quando eles ainda estavam sem se falar, ele estava aparentemente bem, indo pra bares, tentando retomar a vida, parar de fumar, praticar esportes, aquelas coisas todas que ninguém se interessa mas que ele fica ali falando sobre por vidas. queria conhecer as amigas das pessoas, e eu até pensei em apresentar uma amiga solteira pra ele. ideia já obviamente reconsiderada, dado o espalhamento da pessoa. morri com esse assunto, ele jamais vai encostar qualquer dedinho em amiga minha. não se eu puder evitar.

e aí, quando a gente acha que pior não fica, pior não pode ficar, ele resolve chutar o balde com o trabalho. gtalk o dia todo, mensagens no celular o dia todo. toda reunião a gente precisa chamar a atençao dele pra ele participar e prestar atenção. tudo eu preciso cobrar. tudo eu preciso controlar e lembrar ele. vc se distrai dois segundos e tá ele lá, com um tique nervoso que faz ele piscar o olho, digitando loucamente no celular, discutindo a relação. chegou um email ontem que formalizava uma coisa que a gente já tinha feito DUAS reuniões a respeito. e eu perguntei pra ele se a gente podia encaminhar, e tals.

ele não fazia ideia do que eu estava falando. depois de duas reuniões. até a designer japa fofa que nao tinha nada com isso sabia do que eu estava falando, e ele não. daí ele resolve tirar 15 dias de férias, bem no meio do prazo do projeto, coisa que eu já falei aqui. não sou mãe dele, né? quem sou eu.

cinco meses de separação, gente. e a pessoa nesse estado. sofrendo por uma menina 14 fucking anos mais nova. eu não estou falando de um moleque. estou falando de um homem adulto, com responsabilidades. absolutamente espalhado, que toma café numa xícara de porcelana com rosas pintadas à mão e rouba a minha ideia de fazer quadro com a corujinha que a designer fofa desenhou.

eu não sou obrigada, né? não sou.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

março acabou, mas não sem antes me presentear com uma reunião horrorosa, em que eu fui tratada como uma idiota por um gringo imbecil. saí soltando fogo pelas ventas, verdadeiramente arrasada. machismo é coisa que eu ainda não tinha esbarrado, assim, dessa forma. quando a reunião acabou, eu não tinha forças. queria chorar, queria gritar, queria fazer outro call pra discutir com o gringo maldito os reais motivos de ele falar comigo naquele tom, sendo eu a única mulher na equipe. haja terapia. 

o chefo concordou, finalmente alguém me escuta e diz que eu não estou sonhando, que eu não estou paranoica. me pediu desculpas por ter de lidar com isso, pediu que eu não recue nem um passo nos meus questionamentos. disse que acha que eu ameaço o gringo, porque eu sempre levanto pontos que colocam em xeque decisões (equivocadas) que ele toma.

nada disso fez com que eu me sentisse melhor. eu fico ensaiando na minha cabeça a hora em que eu, no meio de um call desses, perguntar pra eles how many women do they have on their company. só pra ouvir o que eu já sei. NONE, nenhuma.

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a japinha designer mega fofa que eu contratei pro lugar do japonês lento que estava aqui antes, além de ser ultra mega rápida, faz uns desenhos muito lindos. daí o cara de tecnologia pediu pra ela desenhar uma coruja, que ele queria fazer uma tatuagem. ela começou e à medida que o desenho foi tomando forma, ele achou que estava muito feminino pra tatuar. largou pra lá. então uns dois dias depois, eu pedi pra ela me dar o desenho quando estivesse terminado, porque eu gostaria de fazer um quadro com ele, colocar uma moldura amarela.

hoje o cara de tecnologia disse que vai querer o desenho, porque quem vai fazer quadro com moldura amarela é ele. roubou a minha ideia, pegou o desenho e ainda disse que tinha mais direitos, já que foi ele que pediu. eu mandei fazer bom proveito, disse que é possível que a parede dele fique levemente feminina, e que ele podia sim roubar essa ideia, porque de onde essa veio tem outras, muitas outras. por isso que a minha casa é linda, beijos.

ele não respondeu nada, apenas tomou um gole de café na xícara de porcelana com flores pintadas que ele trouxe pro trabalho. ele usa essa xicara porque alugou um desses apartamentos com tudo dentro, e essas eram as xicaras disponíveis. uma xícara de vovozinha. ele não é gay. nem pra isso ele teria talento.

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aliás, O CARA DE TECNOLOGIA. merece um post todinho pra ele. to pra ver pessoa espalhada que nem essa.