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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

outubro

tenho alternado dias muito ruins com dias relativamente bons. nos dias ruins eu mal me levanto da cama. andei emagrecendo, meu menino viajou a trabalho e eu corri pra cidade siderúrgica pra comer feijão feito na hora e brincar com o novo membro da familia, um buldogue francês bebê. voltei pra são paulo numa dutra encharcada, desacostumada a dirigir na estrada e com preguiça. cheguei e tinha esquecido de pagar a conta de internet, vejam vocês. nem bloquearam nem nada, deu tempo de regularizar, mas me dei conta de como ando fora de mim esses dias. me matriculei num curso de dois dias inteiros, quinta e sexta, de 9h as 18h, aquele horário que eu não faço nunca, nem trabalhando. dormi com a janela aberta pra deixar a luz entrar. o curso é uma certificação de algo que eu já faço desde que cheguei em são paulo, mas que nunca fui oficialmente treinada. achei que era hora de tacar coisinhas no linkedin. eu quis fazer esse curso em agosto, mas a firma não estava me deixando tempo livre e acabei adiando. serviu pra ver que eu fiz tudo direitinho, e que eu continuo boa no que eu faço. fez um mês o acontecido. aos poucos eu volto a perguntar dos queridos. o cara de ti foi demitido, duas semanas depois de mim. chefo e rainha assumiram o relacionamento e ele anunciou que está indo pro sul assumir a diretoria de alguma coisa da nave mãe. disse que vai tocar o projeto de lá, mas sabemos que não. rainha de copas vai ter de abrir mão de todo o império construído pra acompanha-lo ~em nome do amor verdadeiro~. nesse meio tempo uma das minhas meninas recebeu uma proposta e pediu demissão, e o que se vê é o chefão desesperado pra mante-la, porque com a minha saída e com a transferência do chefo, não sobrou nada nada do que a gente fazia. a rainha de copas virou gerente de projetos (sem nunca ter sido) e está coordenando os gringos sem falar inglês. eu já escuto os absurdos sem dor, e com um pouco de pena. me concentro em fazer entrevistas, mas nada muito certo, ainda. recebo e-mails de amigas preocupadas comigo, me surpreendo com gente de quem eu não esperava nada super se empenhando em me ajudar. uma das amigas da menina de cabelos vermelhos, vilã da segunda e da terceira temporadas desse reality show, vejam só. fico feliz de ver que eu construí algo legal ali, independente das rivalidades todas. vida que segue. voltei andando do curso e me lembrei de 2009, quando minha cabeça não sossegava e andar pelas ruas de são paulo me trazia pro eixo. saudades do meu menino. saudades de mim entre corredores e projetos.

meu aniversário domingo. horário de verão, um dia de 23h. quase acho isso bom. não estou para comemorações. 2013 tem sido como foi 2012. difícil.

mas o velhinho da cabala que eu visitei outro dia, e que desenhou as linhas da minha mão e disse que eu vou morrer velhinha, disse também que tudo vai ficar bem. 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

entrevista numero 4

é uma casa muito bonitinha dentro de uma vila nos jardins. duas quadras pra baixo de onde ficava o trabalho antigo, aquele que eu evito saber como anda, se anda, para onde vai. a recepção é separada por uma estrutura metida a instalação de madeira, e tem uns sofás e pufes espalhados, sugerindo uma área de convivência. era uma área de convivência. tinha um galerê moderninho, de camisetas nerd e barbichas, falando do mercado. agência. me corrigiram. é uma consultoria. 

é nada. se tem cliente, se faz o que o cliente bem entende, é agência.

fiquei esperando sentada numa cadeira, e foi juntando mais gente na salinha do lado. montaram uma mesa e surgiram dois bolos. um doce, um salgado. galere conversando, interagindo, clima descontraído. cansei de olhar o facebook no telefone, cansei de jogar candy crush. não queria olhar pra eles, estava constrangida com o fato de estar sentada ali, na cadeira, esperando uma entrevista que eu nem sabia (e nem sei) se queria passar, no meio de uma festa que ameaçava começar.

chegou o maluco que ia me entrevistar e me salvou da bagunça. perguntou se eu queria esperar o parabéns, eu sorri e recusei. a sala de reunião era no fundo na casa. tudo muito bonito, arrumado. acabamentos detalhados. eu trabalhava num escritório tão feio. isso nem me incomodava tanto, acho. mesmo quando começaram as batidas da famosa reforma, eu já meio que sabia que não estaria lá pra ver tudo pronto.

e o cansaço? e a preguiça de botar um sorriso na cara e mostrar que ~sou a pessoa certa~ para a vaga em questão? nem sei muito bem como eu consegui. vai ver que é o que chamam de carisma. lá estava eu desfiando minhas habilidades, falando sobre o mercado e o que eu gostava de fazer. tentando me encaixar naquele cenário.

nunca me achei carismática. prefiro creditar essa minha habilidade em entrevistas à imensa quantidade de vezes que precisei praticar. sou boa para caralho nisso. desculpaê. ate minha voz sa diferente, mais pausada, mais put together. convenci o cara que eu era ótima, mission accomplished. duas horas depois, saia de la correndo pra não perder o compromisso com a familia do namorado, com uma promessa de que eles me ligariam na semana seguinte (essa, né?) pra marcar a segunda conversa, dessa vez com o dono.

pergunta se eu quero essa vaga? não. não queria entrar numa de atender clientes, isso tudo me lembra os prazos loucos da oficina, com a evil manager no meu pescoço. mas penso que pode funcionar como algo temporário, até que eu tenha nas mãos algo que de fato eu queira fazer.